Cadeirantes

De asas abertas rumo ao sol...
Não como Ícaro - deicídio de ilusões!
A felicidade ardente viajando no tempo.
Veloz como a flecha do arqueiro, lançada.
Eficiente como a palavra do poeta, desferida.
Irascível como o lume da espada, brandida!

- Ainda que pernas me faltem...

Voa lépido meu pensamento
Entre brumas e auroras boreal,
Por tempos remotos, eras ignotas.
Acima do bem e do mal, absoluto.
Transcendendo almas perdidas, inócuas.
Sublimação apopléctica do organismo!

- Ainda que pernas me faltem...

Quantas mentes turvas são cadeirantes,
De pernas sãs, de passos trôpegos?
Quantas asas de cera, lagartas mutiladas,
Jamais alçaram vôo, almas acéfalas?
Tantas palavras perdidas como dardos no vazio.
Incontestável patogenia do espírito...

- Ainda que pernas me faltem...

Restam todas as palavras e idiomas.
Resta o concretismo dos sonhos.
Resta a aquarela estampada...
Resta a poesia proferida...
Resta a bola certeira, lançada...
Resta a mão que afaga, o lábio que beija...

- Pernas não me faltam!

Antonio Carlos Sanches - 21/05/2006

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