Variação nos cromossomos de neurônios é nova dificuldade para terapias com células-tronco

RIO - Aprendemos na escola que todas as células humanas (com exceção dos espermatozoides e óvulos) têm 23 pares de cromossomos, 46 deles no total. Isso, no entanto, não é verdade para os neurônios, que podem acabar com mais ou menos deles em sua gênese, seja ela natural ou proveniente de células-tronco, mostram estudos realizados por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicados no periódico científico online "PLoS ONE". Segundo Stevens Rehen, professor titular do instituto e um dos autores dos artigos, isso cria uma identidade cerebral que torna cada indivíduo ainda mais único.

- Somos mais diferentes do que imaginávamos - conta Rehen. - Como essa perda ou ganho de cromossomos acontece no momento da diferenciação das células-tronco em neurônios, ela não é uma característica herdada. Essa variação poderia explicar, por exemplo, as diferenças de comportamento de gêmeos idênticos.
Um terço dos neurônios não tem 46 cromossomos
Conhecido como aneuploidia, o fenômeno também estaria por trás do maior risco de algumas pessoas desenvolverem doenças degenerativas como o mal de Alzheimer. Neste caso, explica Rehen, já foi verificado que pessoas que têm muitos neurônios com três cópias do cromossomo 21 no seu cérebro são mais propensas a sofrerem do mal.
- O cérebro é como um mosaico - diz o pesquisador. - Pelo menos um terço dos neurônios do cérebro de um adulto não têm 46 cromossomos. Isso altera completamente a expressão gênica dos neurônios, levando as redes neurais a terem um repertório de respostas diferente a um estímulo ou na cognição. Entender como esse mosaico é formado poderia ajudar a explicar a suscetibilidade a algumas doenças degenerativas.
A variação no número de cromossomos nos neurônios também cria mais um problema para o desenvolvimento de terapias com células-tronco, considera Rehen. De acordo com ele, todas as pesquisas e testes clínicos feitos até o momento analisam apenas o cariótipo (conjunto de cromossomos) das células-tronco originais, sejam elas embrionárias ou de pluripotência induzida (iPS), e não o das células resultantes de sua diferenciação.
- Ninguém olha o cariótipo da célula-tronco quando ela já está diferenciada. - aponta ele. - É uma observação inédita e surpreendente, e nosso trabalho apresenta um novo nível de complexidade ao estudo de neurônios produzidos em laboratório visando transplantes ou terapia celular.
Rehen, no entanto, admite que ainda serão necessários muitos estudos para saber se esta variação dos cromossomos é benéfica, prejudicial ou neutra para a criação de futuros tratamentos.
- Não sabemos se o número de cromossomos vai interferir nos tratamentos - diz. - Estamos abrindo uma nova frente de trabalho e cabe à comunidade científica internacional usar essa informação.


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