Depoimento: Adriana Quevedo - Cuidadora

O que aprendi com relacionamento esposa e mãe de pessoa com DMJ

Sou esposa há cinco anos de paciente com DMJ. Nosso namoro durou sete anos, sendo que nos dois últimos anos de namoro, já tínhamos contato com os primeiros sintomas da doença. Eu amo meu marido e quando percebi que ele tinha mais chances de viver menos que eu, resolvi casar logo, pois não suportaria renunciar a nem mais um dia ao lado dele por inteiro. Somos felizes, mesmo com as dificuldades do dia a dia. Como minha sogra cuidou de seu marido com a mesma doença por 20 anos, sentiu necessidade de vir morar mais próximo de nossa casa, pois era de outra cidade. Como moro em condomínio de casas, ela comprou uma próxima a minha.

Diz o ditado que sogra não pode morar muito longe para não vir de mala, nem muito perto para não vir de pijama. Apesar da proximidade, poucas vezes ela vem de pijama a minha casa. Minha sogra é muito cuidadosa para evitar se intrometer em nossas decisões e invadir nossa vida de casal, mas muitas vezes a dedicação de mãe fala mais alto e ela dá sua opinião enfaticamente mesmo sem querer. Coisas como fazer lista do que ela acha que minha empregada tem que fazer ou não aceitar que eu viaje sozinha com meu marido. Ela evitava ficar na minha casa muito tempo, depois eu soube disso, e evitava fazer comentários sobre a limpeza da louça etc. Meu marido ficava várias horas do dia com ela enquanto eu ia dar aula ou estudar. Quando eu voltava para casa, queria me jogar no meu sofá, mas ia buscar meu marido na casa da minha sogra e ficava sem graça de pegá-lo e voltar para casa sem sentar um pouquinho para conversar ou assitir tv. Durante o ano passado, passamos os dias assim, mas meu marido começou a emagrecer muito e eu não dava conta de ajudá-lo com o banho e preparar as 4 refeições bem feitas todos os dias. Muitas vezes ele estava barbado, sem banho e com uma refeição a menos. Não que eu seja anti-higiênica, mas diante dos 60 minutos que levo para dar banho nele, secar, ajudá-lo a se vestir, eu muitas vezes desanimei. Eu me culpava muito com isso, mas não gosto de cozinhar e muitas vezes chegava cansada da aula e não tinha ânimo para isso. Ainda mais que meu marido cansava demais para tomar banho e muitas vezes estava com dor. Eu sei que não estava fazendo o certo, mas não queria que no tempo que eu estivesse ao lado dele eu fosse a enfermeira apenas. Pois não sobrava mais tempo.

Foi como um furacão que ouvi umas verdades, mas de forma grosseira e cruel através do meu cunhado no início do ano, quando havia voltado com meu marido do hospital. Surtei, joguei coisas na parede, xinguei todo mundo, chorei até ter dor de cabeça, precisei do apoio da minha mãe e pai. Mas no fim, tudo ficou bem melhor. Acredito que as pessoas podem dizer o que pensam de maneira construtiva, mas mesmo destrutivamente, a verdade vem para o bem. É claro que me culpar de ser responsável pelo estado ruim que meu marido estava não era justo, pois sou uma esposa amorosa e cuidadosa, apesar dos meus defeitos. Mas várias coisas que eu não estava fazendo direito foram elencadas no meio das ofensas. Depois de chorar muito e desesperar, desabafar com minha mãe, resolvi listar todas as obrigações que têm de ser realizadas para a saúde do meu marido. Coisas simples como tomar banho, fazer a barba, escovar os dentes, tomar remédios, preparar e dar café da manhã, almoço, lanche e jantar com alimentos crus, legumes cozidos, sem arroz para não engasgar etc, fazer os exercícios domiciliares da fono e da fisio, pegar remédio na casa de saúde foram listadas e chamei minha sogra. Uma reunião conciliatórioa, pois xingar o cunhado acaba ofendendo a sogra e durante meu surto de loucura acabei dizendo coisas que ela não gostou. Nesta reunião, li a lista e disse que ela poderia ajudar-me que eu não me sentiria invadida com a ajuda. Neste dia foi como se um peso saísse das minhas costas pois há meses eu me incomodava de não estar fazendo tudo que era possível pela saúde do meu marido. Desde então minha sogra prepara todas as refeições dele e traz a minha casa. Ninguém, nem eu mesma, pode mais me culpar de não estar alimentando ele direito. Fico responsável pelo restante, assim como dar as refeições. Quando meu trabalho retornar, minha sogra disse que assume tudo enquanto eu estiver fora. A pressão diminuiu sobre mim. Minha analista disse que eu consegui resolver bem a situação. No fim, apesar da tormenta, tudo ficou melhor.

Gostaria apenas que não tivesse sido dessa forma que entrássemos em concordância com isso. Faltou diálogo antes. Eu não aceitava pedir ajuda, pois não queria mais interferência da minha sogra na minha vida, mas quando vieram me culpar de não fazer direito o que eu fazia com tanta dificuldade, percebi que não era reconhecida pelo meu esforço e dividir tarefas foi a melhor forma de dividir a pressão, o esforço e aumentar o tempo com meu marido.

Valeu a pena e indico.

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