Vi a reportagem no Estado de São Paulo sobre o impacto de testes geneticos e gostaria de saber sua opinião a respeito.
Obrigada (Natássia Vieira)
Testes genéticos em farmácia, genes de “futilidade”, já falei disso em colunas anteriores. Esse mês a prestigiosa revista New England Journal of Medicine (12 de janeiro de 2011) publica um artigo acerca do possível impacto – ou efeito- desses testes nos consumidores – comentado no jornal O Estado de S. Paulo ( 25 de janeiro).
Os autores analisaram os efeitos psicológicos, comportamentais e clínicos em 2.037 pessoas que se submeteram a testes que estimam os riscos genéticos de desenvolver entre 20 e 40 doenças comuns (como diabetes, câncer de mama, câncer de próstata, aumento de colesterol, risco de cardiopatia entre outros). Segundo eles a validade desses testes e sua capacidade de estimar riscos são muito questionáveis, mas o objetivo da pesquisa foi o de verificar o impacto dos resultados nos consumidores.
Os testes podem ser comprados pela Internet
O custo é de 400 a 2.000 dólares e não há pré-requisito. Qualquer pessoa pode mandar sua amostra de DNA para análise. Entre 3.639 pessoas que se submeteram ao exame de DNA, 2.037 (56%) completaram o questionário aplicado pelos autores dessa pesquisa, entre 3 e 12 meses após o teste (média 5.6 + 2.4 meses). Esse questionário analisou alterações no nível de ansiedade, consumo de gorduras ou atividade física.
Quais foram os resultados?
A primeira análise mostrou que não houve efeito significativo em nenhum dos três parâmetros: ansiedade, consumo de gordura ou exercícios físicos. Ou seja, os autores concluem que a informação acerca dos resultados desses testes genéticos não teve efeito psicológico, comportamental ou clínico, pelo menos, a curto prazo.
Chamam também a atenção para o fato de que, apesar dos indivíduos analisados representarem aqueles que decidem se submeter ao teste, eles não representam a população como um todo, no caso a dos Estados Unidos. É notável também que 44% dos indivíduos não se interessaram em responder o questionário.
Consultas genéticas
Também é digno de nota que só 10% dos entrevistados relatam que conversaram com um geneticista acerca dos resultados, apesar do serviço de Aconselhamento genético ter sido oferecido sem custos. Por outro lado, 26% relatam que informaram seus médicos acerca dos resultados. Entretanto, uma pesquisa recente mostrou que só 10% dos médicos possuem conhecimento suficiente para interpretar resultados genéticos ou usá-los para tratar pacientes.
Os testes não são confiáveis
Os autores também reforçam que os resultados dos testes não são confiáveis e que diferentes laboratórios produzem resultados discrepantes. O mesmo teste pode revelar risco aumentado em um laboratório e diminuído em outro. Portanto é um alívio saber que não produziram impacto nos consumidores.
A minha pergunta é: se você não pretende mudar de hábitos, para que submeter-se a um exame genético? Ou, se você tivesse certeza acerca da confiabilidade do teste, mudaria de hábitos de acordo com o resultado do teste?
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